sexta-feira, 29 de julho de 2016

COMO VAI ACABAR O CAPITALISMO? O epílogo de um sistema em desmantelo crônico


Por WOLFGANG STREECK
(Sociólogo, Diretor do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades)
Revista Piaui, nº. 97


Mais do que em qualquer momento desde o fim da Segunda Guerra Mundial, há hoje em dia um sentimento generalizado de que o capitalismo está em estado crítico. Em retrospectiva, a crise de 2008 foi apenas a mais recente de uma longa sequência iniciada em meados da década de 70, com o fim da prosperidade do pós-guerra. Cada crise mostrou-se mais grave do que a anterior, alastrando-se mais ampla e rapidamente por toda a economia global, cada vez mais interligada. O surto de inflação dos anos 70 foi seguido pelo aumento da dívida pública nos anos 80, e o ajuste fiscal dos anos 90 se fez acompanhar por um acentuado aumento da dívida do setor privado. Já faz quatro décadas que o desequilíbrio tem sido mais ou menos a condição normal do mundo industrial avançado, tanto em nível nacional como global.
Com o tempo, as crises do modelo do pós-guerra nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)[1] se tornaram tão recorrentes que não são mais vistas como meramente econômicas; elas resultaram na redescoberta da antiga noção de “sociedade capitalista” – do capitalismo como uma ordem social e um modo de vida que depende visceralmente do progresso ininterrupto da acumulação de capital privado.
Os sintomas da crise são muitos, mas predominam três tendências de longo prazo nas trajetórias dos países ricos altamente industrializados – ou melhor, cada vez mais desindustrializados. A primeira é um declínio persistente da taxa de crescimento, agravado pelos acontecimentos de 2008. A segunda, associada à anterior, é um aumento também persistente do endividamento total nos principais países capitalistas, onde governos, famílias, empresas e bancos vêm acumulando passivos financeiros nos últimos quarenta anos. A terceira tendência, enfim, consiste no recrudescimento, já há várias décadas, da desigualdade, tanto de renda como de riqueza.
O crescimento constante, a moeda estável e um mínimo de igualdade social, disseminando alguns benefícios do sistema para os que não têm capital, por muito tempo foram considerados pré-requisitos para uma economia política capitalista conseguir a legitimidade de que precisa. Nesse sentido, o mais alarmante é que as tendências críticas mencionadas podem estar se reforçando mutuamente.
Crescem os indícios de que o aumento da desigualdade pode ser um dos fatores do declínio do crescimento, pois a desigualdade trava as melhorias na produtividade e também enfraquece a demanda. O baixo crescimento, por sua vez, reforça a desigualdade ao intensificar a disputa pelos recursos – o chamado conflito distributivo –, tornando mais custosas aos ricos as concessões aos pobres, e fazendo com que os primeiros insistam mais do que nunca na estrita observância do “Efeito Mateus” que rege os mercados livres: “Ao que tem muito, mais lhe será dado e ele terá em abundância; mas ao que não tem, até mesmo o pouco que lhe resta lhe será tirado.”[2]
Além disso, o endividamento crescente, ao mesmo tempo que não consegue deter a redução do crescimento, torna-se mais um componente da desigualdade devido às mudanças estruturais associadas à financeirização da economia – financeirização esta, no entanto, que visava compensar os assalariados e consumidores pelo aumento da desigualdade de renda causada pela estagnação dos salários e pelos cortes nos serviços públicos.
Isso que parece ser um círculo vicioso de tendências nocivas pode continuar para sempre? Ou existem forças contrárias capazes de romper esse círculo? E o que acontecerá, como assistimos há quase quatro décadas, se essas forças contrárias não se materializarem?


"A violência" - Slavoj Žižek





Sobre "A Violência" - Slavoj Žižek
Jorge Luiz Souto Maior


“As pessoas dormem tranquilamente à noite porque existem homens brutos dispostos a praticar violência em seu nome.”

George Orwell

Acusam as manifestações populares de violentas, mas, em geral, elas são apenas reações a violências constantemente sofridas que não são chamadas por esse nome. O problema é que a revolta, materializada em ato coletivo, é muito mais facilmente visualizada.
Essa violência concreta acaba sendo o argumento para a repressão institucionalizada, fazendo com que as vítimas reais sejam novamente violentadas. Apesar disso, reações populares pelo mundo têm cada vez mais aumentado seu tamanho e sua consciência. Como explicar?
As respostas não são simples. Neste livro Slavoj Žižek analisa os problemas de estagnação do modelo de sociedade atual, que multiplica insatisfações e frustrações pessoais e coletivas. Aponta também para o aumento da percepção das violências originárias, favorecido pelo acesso à informação.
Compreender a origem da violência altera a avaliação sobre o contexto histórico das relações sociais, permitindo-nos visualizar a essência dos conflitos, caracterizada pelos inúmeros e às vezes sutis processos de exclusão. É nesse sentido que Žižek busca delinear os aspectos subjetivos e objetivos da violência, tanto sua expressão visível como a invisível, indo desde a liberalização da sexualidade e o comunitarismo, passando pela política do medo e o terrorismo fundamentalista, até desembocar na violência divina, incluindo-se aí o ateísmo.

Se reivindicar direitos sociais é a forma democrática de se buscar uma saída para uma sociedade à beira do caos, corre-se o risco de as repressões aumentarem na mesma proporção. Até quando os responsáveis pela construção do direito e pela organização do Estado irão ignorar o grito que vem das ruas? A resposta, meu amigo, como diria Bob Dylan, “está soprando no vento”...

A Viagem das Idéias


Renan Freitas Pinto
(Revista Estudos Avançados)


COM O PRESENTE título queremos sugerir que as idéias, ao percorrerem espaços próximos e distantes, conectando homens e épocas, possuem, em determinadas situações especiais, em certos momentos singulares, a capacidade de se imporem como o sistema de pensamento predominante, a partir do qual se passa a sentir, a agir e a perceber o mundo das coisas e dos homens. Há também as situações em que as idéias perdem seu impulso original em momentos desfavoráveis à sua propagação, extraviam-se e são eclipsadas.
Nessa perspectiva, queremos sugerir que o processo de formação do pensamento que construiu a Amazônia como um espaço natural e cultural vem, ao longo dos últimos cinco séculos, produzindo e continuamente reinventando, a partir de um conjunto relativamente limitado de idéias, as percepções que se tornaram as mais persistentes, dentro certamente do quadro mais amplo e diversificado da geografia do Novo Mundo.
Um outro aspecto certamente digno da atenção de toda investigação em torno do desenvolvimento da história das idéias sobre a Amazônia é que esse processo tem envolvido uma gama bastante diferenciada de campos da ciência e do pensamento, mas tem se concentrado de forma especial em áreas como a da história natural, da geografia, da antropologia.
O aspecto, entretanto, de maior interesse é aquele revelado por esse tipo de prospecção em torno de quais as idéias matrizes que foram historicamente se configurando para constituir esse núcleo a partir do qual vem sendo geradas as noções diferenciais entre a civilização e a barbárie, ou seja, mapear, no trajeto do pensamento moderno, as origens das noções que separaram o mundo por meio de noções preconceituosas.

"Eu quero estudar!"


Por Ana Aranha 
(Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo - AGÊNCIA PÚBLICA)


Iara*, 18 anos, e Cenira Sarmento, 66, viveram experiências parecidas quando adolescentes. Elas não tiveram o luxo de levar bronca dos pais pela bagunça do quarto, como acontece com as meninas dessa idade. Aos 14 anos, eram elas que arrumavam a bagunça dos outros. Apesar da diferença de gerações, as duas tiveram a mesma sina: foram enviadas por seus pais para trabalhar como empregadas domésticas em Belém como continua a acontecer com muitas meninas do interior do Pará.
Iara tinha 14 anos quando deixou a casa da família em Viseu (305 quilômetros da capital). Cenira tinha 10 quando saiu de São Caetano de Odivelas (110 quilômetros de Belém). Embaladas pela expectativa de um futuro melhor graças aos estudos na capital, desembarcaram assustadas na cidade onde não conheciam ninguém. Foram direto para a casa onde trabalhariam, morariam e aprenderiam lições mais duras do que a rotina diária de limpar a casa, lavar a roupa, fazer o almoço, lustrar a prata.
O  primeiro ensinamento foi sobre disciplina rígida. Iara não gosta de lembrar dos gritos que a humilhavam quando esquecia de limpar um canto da casa. Cenira levava cascudos, quando errava o lugar da louça.
Nas tardes em que Iara insistia em ir à escola, a patroa ralhava e cinicamente ameaçava chamar o conselho tutelar. “Trabalho infantil é crime, tu quer prejudicar seus pais?”. A menina se calava. Como ela, que não tinha nem documento de identidade, poderia argumentar sobre a interpretação das leis? E assim recebia o segundo ensinamento: a submissão.
Lição que era reforçada no cotidiano, até nos “conselhos” que recebia dos patrões. Iara ganhava 100 reais mensais para trabalhar das 6 horas da manhã até a meia noite, de segunda a domingo. Quando falava sobre o desejo de cursar uma faculdade, ouvia da patroa: “Para com isso, menina, pobre tem que se conformar com o seu lugar”.
Cenira, que cresceu em um tempo ainda mais duro com as trabalhadoras domésticas, também recebia aulas diárias sobre o “seu lugar”. Dos 10 aos 15 anos, comia os restos da comida da família, vestia-se com as roupas usadas pelas crianças de quem cuidava e dormia em um quartinho no fundo do quintal. Esse era o seu pagamento pelo trabalho diário.
Mas ela não reclama da sorte: “Sei que fui lambaia [escrava], eu tirava sangue pra fazer tudo naquela casa, cansei de lavar vaso sanitário com as mãos. Mas aprendi o serviço, depois tive orgulho de virar arrimo da minha família”. E conclui com a voz firme da convicção: “Eu acho um absurdo essa lei que criança não pode trabalhar. Trabalhar é bom, não mata ninguém”.
Seu jeito de pensar reflete a opinião de grande parte da população paraense, para quem trabalhar cedo pode ser uma parte importante da formação. E ajuda a explicar porque Iara e Cenira, que nasceram com quase 40 anos de distância, viveram experiências ainda bastante parecidas.
Mas há ao menos uma diferença fundamental entre as duas trajetórias, que pode determinar destinos distintos para as duas.


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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Por um punhado de leitura: "A Invenção dos Direitos Humanos: Uma História" - Lynn Hunt


Durante o século XVIII, em inglês e em francês, os termo s "direitos humanos" , "direitos do gênero humano " e "direitos da humanidade " se mostraram todos demasiado gerais para servir ao emprego político direto. Referiam-se antes ao que distinguia os humanos do divino, numa ponta da escala, e dos animais, na outra, do que a direitos politicamente relevantes como a liberdade de expressão ou o direito de participar na política. Assim, num dos empregos mais antigos (1734) de "direitos da humanidade " em francês, o acerbo crítico literário Nicolas Lenglet-Dufresnoy, ele próprio um padre católico, satirizava "aqueles monges inimitáveis do século VI, que renunciavam tão inteiramente a todos 'os direitos da humanidade ' que pastavam como animais e andavam por toda parte completamente nus". Da mesma forma, em 1756, Voltaire podia proclamar com ironia que a Pérsia era a monarquia em que mais desfrutava dos "direitos da humanidade" , porque os persas tinham os maiores "recursos contra o tédio". O termo "direito humano " apareceu em francês pela primeira vez em 1763 significando algo semelhante a "direito natural", mas não pegou, apesar de ser usado por Voltaire no seu amplamente influente Tratado sobre a tolerância!'


HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos, p. 21





A construção do conhecimento científico: o papel da pesquisa



Por Marilene Corrêa da S. Freitas
(Revue de l’Association Francophone Internationale de Recherche Scientifique en Éducation)


Em um trabalho de grupo nos fins dos anos noventa, com a duração de oito anos, e com a finalidade de avaliar e de produzir parâmetros acerca da pesquisa em educação, experientes pesquisadores americanos produziram um inventário transformado em livro de 16 capítulos intitulado Questões da pesquisa em educação, problemas e possibilidades (1999) . Quatro partes constituem a organização da obra e das preocupações dos pesquisadores, no domínio disciplinar da educação, o que já evidencia a magnitude das questões envolvidas: 1) o foco na pesquisa da História e da Sociologia da Educação; 2) o foco nas configurações emergentes da educação e da pesquisa; 3) o foco na pesquisa como vocação; e 4) o foco na comunicação da pesquisa educacional. A análise desse empreendimento por pesquisadores brasileiros destaca a importância da preocupação no interior de um país de sólida estrutura de pesquisa como são os EUA, e a natureza coletiva e não imediatista do esforço de investigação do que se produz, e de como se constrói esse conhecimento para finalidade de re-equacionamento da pesquisa em educação.

A construção do conhecimento científico conheceu uma revolução em todos os campos disciplinares e avança sobre as disciplinas especiais. A comunidade científica, posta tantas vezes em dúvida e desafiada à cada ruptura paradigmática, faz-se e refaz-se em setores, segmentos, redes, campos e grupos de pesquisa. Afirma-se, hoje, que não há barreiras intransponíveis entre as formas de conhecimento, os saberes e a ciência. Como prática social o fazer científico expande-se; como conhecimento histórico o fazer científico legitima-se; como desenvolvimento lógico a cognição humana a serviço da pesquisa submete o pesquisador e seus interesses a constantes mudanças de papel e de intervenção.

Sobre as Inscrições no II SIScultura


1) O Evento admitirá inscrições em duas modalidades, “Participante com Apresentação de Trabalho” (Artigos e Banners) e “Participante sem Apresentação de Trabalho”. Consultar os valores e prazos de inscrição dessas duas modalidades no item seguinte, “PRAZOS E VALORES”.

2) As Inscrições ocorrerão entre 20/07/2016 até 09/11/2016 via correio eletrônico (e-mail) iisiscultura@gmail.com e presencial. As inscrições via correio eletrônico (e-mail) serão destinadas a Participante com Apresentação de Trabalho” (Artigos e Banners); as inscrições presenciais são destinadas a “Participante sem Apresentação de Trabalho”, serão realizadas na Secretaria do Programa Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), ICHL, UFAM, das 8:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00, de segunda à sexta-feira.

3) O(s) Participante(s) inscrito(s) na modalidade “Com Apresentação de Trabalho” (Artigos) deve(m) realizar inscrição através da ficha de inscrição onde preenchera dados pessoais dos Autores, Grupo de Trabalho pretendido, Resumo até 250 palavras e Palavras-chave, até 5 palavras. E após enviar a ficha de inscrição preenchida para o E-mail iisiscultura@gmail.com com o titulo da mensagem “INSCRIÇÃO DE ARTIGO CIENTIFICO GT(nome)”.

4) Os Trabalhos inscritos na modalidade Artigo serão selecionados pelos Coordenadores do Grupo de Trabalho (GT) pretendido, quando aprovado os autores serão comunicados e terão até dia 14 de outubro para efetuar o pagamento da inscrição e enviar o trabalho completo para o E-mail iisiscultura@gmail.com para fins de publicação nos Anais do II SIScultura.

5) A proposta de trabalho não aceita pela coordenação do Grupo de Trabalho pretendido será proposto pela Coordenação do Evento ao(s) autor(es) que apresentem o trabalho em formato Banner.

6) O(s) Participante(s) inscrito(s) na modalidade “Com Apresentação de Trabalho” (Banner) deve realizar sua inscrição através de ficha de inscrição onde preenchera dados pessoais dos Autores, Grupo de Trabalho pretendido, Resumo até 250 palavras e Palavras-chave, até 5 palavras. E após enviar a ficha de inscrição preenchida para o E-mail iisiscultura@gmail.com com o titulo da mensagem “INSCRIÇÃO DE BANNER”. Não haverá seleção de trabalhos para essa modalidade.

7) O(s) autor(es) dos Trabalhos inscritos na modalidade Banner devem realizar sua inscrição e efetuar o pagamento da inscrição observando os prazos e valores das inscrição no item seguinte “PRAZOS E VALORES”

quinta-feira, 21 de julho de 2016

PPGSCA-UFAM seleciona 1(um) bolsista Pesquisador em nível de Pós-Doutorado

Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA): as inscrições ocorrem no período de 25 de julho a 10 de agosto, somente por e-mail, e são para a seleção de 1(um) bolsista pesquisador em nível de pós-doutorado. O exame de seleção constará de uma análise das candidaturas, conforme os seguintes critérios: Titulação Acadêmica, Produção Intelectual na área do curso e Projeto de Pesquisa. (Acesse aqui o Edital N.º 029/2016). O resultado final será divulgado até o dia 30 de agosto. 

Convite para Lançamento de Obra


quarta-feira, 20 de julho de 2016

São Gabriel e seus demônios


Por Natalia Viana (Agência Pública, 15 de Maio de 2015)


Faz pouco mais de dois meses que ela se foi, um dia antes do seu aniversário. Maria – vamos chamá-la assim – completaria 20 anos em 2 de março. Ninguém diria que não era uma indiazinha como tantas que colorem as ruas de São Gabriel da Cachoeira, município no noroeste do Amazonas, às margens do rio Negro. Era baixinha, os cabelos negros sobre os ombros, as roupas justas, chinelo de dedos. Mas Maria estava ali só de passagem. No seu enterro os parentes contaram que tinham vindo rio abaixo para passar o período de férias escolares, quando centenas de indígenas de diversas etnias deixam suas aldeias e enchem a sede do município para resolver pendências burocráticas. Ali na cidade, ela arrumou namorado, um militar, e passava os dias com ele, quando não estava entre amigos. Mas nos últimos dias Maria andava triste: o casal havia rompido o namoro. Estava estranha, nervosa. Os parentes contaram que chegou a ter alucinações.
Os pais tinham achado bom o fim do namoro. Ninguém chegou a conhecer de perto o tal soldado. Nunca conseguiram ver o seu rosto porque, segundo contaram, quando ele vinha ao bairro do Dabaru, um dos mais pobres do município, onde a família morava numa espécie de vilazinha com casas coladas umas nas outras, ele sempre se escondia nas sombras formadas pela parca iluminação. Tinha o rosto coberto pelas trevas da noite. Era branco? Era preto? Era gente?
Na madrugada de sábado para domingo, dia 1o de março, depois de ter passado a tarde e o começo da noite com o irmão mais velho e amigos bebendo na praia do rio, Maria começou a se transformar de vez. Estava agressiva. Os olhos já não eram os dela, contou o irmão, reviravam e mudavam de cor enquanto ela gritava que os pais não gostavam dela, que era ele o filho predileto. O irmão ainda arrastou Maria de volta, mas, quando chegaram em casa, os pais não conseguiam enxergá-la. No lugar dela viam apenas algo escuro, uma sombra. Um ser da escuridão. O pai não pôde nem levantar da rede no pequeno quarto que dividia com os filhos. Ficou chorando, atônito. Maria entrou no quarto ao lado, bateu a porta. Não conseguiram abri-la, embora não estivesse trancada. Por uma fresta, viram quando ela amarrou uma corda e se enforcou. No momento seguinte a porta finalmente abriu. Ela já estava morta.

Por um punhado de leitura: "A dominação masculina" - Pierre Bourdieu

A dominação masculina passa pela criação de um conjunto de ideias sobre o homem e sobre a mulher no qual o primeiro estabelece sempre as regras. Se há dominação é porque, antes de tudo, há estruturas de poder que fundam e refundam constantemente esta dominação.
Bourdieu aplica o conceito de habitus no processo de subordinação do gênero feminino. Trata-se de uma interação dialética entre os grupos socioculturais dominantes que é mantida e revista a partir de negociações e aceitação dos grupos subalternos.
Segundo Bourdieu, a dominação masculina exercida sobre as mulheres é apoiada na violência simbólica estabelecida a partir da divisão entre quem domina e quem é dominado. Isto não ocorre a partir de mecanismos conscientemente elaborados pelos homens para exercer o poder sobre as mulheres, mas a um gradual processo de “socialização do biológico e “biologização” do social”. Este é organizado a partir de categorias androcentricas, sendo expresso através de modos de falar, pensar, e de se comportar, provocando efeitos nos corpos e mentes dos indivíduos.
Bourdieu propõe ainda uma reflexão sobre o modo como o mundo é concebido e entendido, no qual a "inferioridade" feminina é considerada como algo “natural”. Este processo está na "organização natural das coisas", fazendo parte dos esquemas de percepção dos indivíduos, do seu pensamento e da sua ação.


Calculadora de la desigualdad (OXFAM / Campanã Iguales)

LA MEDIDA DE LA DESIGUALDAD

Una herramienta para calcular el tamaño de la injusticia social en América Latina
CLACSO se ha sumado activamente a la Campaña Iguales, promovida por OXFAM.
Iguales pretende contribuir con la movilización y la concientización ciudadana contra los altísimos niveles de desigualdad existentes hoy en el mundo, particularmente, en América Latina. Lo hace contribuyendo con investigaciones, documentos y datos que muestran cómo las desigualdades se profundizan y generan privilegios que niegan derechos. La desigualdad conspira contra la democracia. OXFAM realiza un aporte de enorme valor político cuando nos ayuda a entender cómo funcionan los procesos de producción y reproducción de la desigualdad, qué factores están asociados a ella y qué podemos hacer para revertir las causas que la generan.
Como parte de la Campaña Iguales, OXFAM ha producido una creativa y útil herramienta que mucho podrá ayudarnos a entender las inmensas desigualdades de ingreso que existen en América Latina. Se trata de la CALCULADORA DE LA DESIGUALDAD, donde es posible comparar niveles de ingreso en cada decil de la población de 15 países latinoamericanos. La CALCULADORA contribuye a hacer más visible las enormes brechas que separan ricos de pobres, así como la diferencia entre pobreza y desigualdad que caracteriza a nuestra región.
Los invitamos a conocer y divulgar esta necesaria y oportuna iniciativa.




terça-feira, 19 de julho de 2016

Edital II SIScultura nº. 02/2016 (Seleção para Coordenação de Grupo de Trabalho)

Este edital versa sobre processo seletivo para Coordenação de Grupos de Trabalho (GT) do II Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazonia: Diálogos Interdisciplinares na Panamazonia – Imaginário Social, Política Cientifica e Relações de Poder.



Edital II SIScultura nº 01/2016

Prezados pesquisadores, professores, discentes de Graduação e Pós-Graduação, o II Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com data programada de realização de 09, 10 e 11 de Novembro de 2016.
Neste Edital (link abaixo), anunciamos a apresentação do evento, normas de apresentação de trabalhos e banners, valores e prazos do II SIScultura. 


II SIScultura - Grupos de Trabalho (GT´s)


Gt 1 - Trabalho, Desenvolvimento Regional, Cidadania e Inclusão Socioeconômica na Panamazônia.

DESCRIÇÃO
Desenvolvimento regional e a inclusão socioeconômica na Panamazônia. Políticas Públicas de desenvolvimento socioeconômico. Direitos Humanos e Cidadania. Políticas Publicas direcionadas à construção da cidadania, à educação e ao trabalho. Políticas de Inclusão para as populações da Panamazônia. Formas e condições de Trabalho. Planejamento Regional. Moradia e Segurança na Panamazônia. Configuração socioespacial, soluções e alternativas emergentes no plano local e regional. Rede urbana e as dimensões da natureza e da sociedade. Finanças publicas das cidades e as dinâmicas econômicas. Relação Cidade e Campo.

Gt 2 - Educação, Interculturalidade e Formação de Professores Indígenas na Panamazônia.

DESCRIÇÃO
Processo de Formação de Professores Indígenas na Panamazônia a partir do contexto sociocultural numa perspectiva da interculturalidade. Procedimentos teórico-metodológicos e os diversos processos de formação de professores indígenas. Interdisciplinaridade. Processos de diferenciação e especificidade da educação escolar indígena. Protagonismo dos movimentos indígenas no Brasil e na America Latina.

Gt 3 – Desigualdade Social de Gênero, Saúde da Mulher, Saberes Tradicionais e Conflitos Socioambientais no Mundo Rural.

DESCRIÇÃO
Desigualdade social de gênero. Condições de acesso à saúde no contexto rural e urbano. Direito à saúde em geral. Questões de gênero relacionada às práticas tradicionais (parteiras, benzedeiras e/ou rezadores). Saberes tradicionais no contexto rural e urbano da Panamazônia. Grupos sociais e étnicos do meio rural inseridos em diferentes categorias sociais (agricultores, pescadores, artesãos de fibra, quilombolas, ceramistas, malveiros(as), juteiros(as), quebradeiras de coco, indígenas, seringueiros, castanheiros e outros). Formas de reprodução social, relações de gênero e estratégias de organização do trabalho no mundo rural. Situações de conflitos e tensões que envolvem a disputa por territórios e acesso a recursos naturais decorrentes das diversas formas de expressão em defesa do seu modo de vida. Formas de construção e implementação de políticas publicas voltadas para os povos do mundo rural.

Gt 4 - A Produção Cientifica Acadêmica e o uso de Fontes Orais: Oralidades e Memórias na Panamazônia.

DESCRIÇÃO
Produção cientifica acadêmica e os processos criativos. Relações socioculturais dos sistemas. Relações simbólicas entre a natureza, a cultura, sociedade e cotidiano. Sistemas comunicativos. Comunicação, abordagens interdisciplinares e Pensamento Complexo. Estudo dos fluxos, das conexões, das interações, linguagens e das estéticas comunicacionais na e sobre a Panamazônia. Documentos de processos. Trajetórias de Vida. Narrativas integradas a processos explicativos. Estudo das Sociedades Amazônicas a partir de pesquisas que utilizam fontes orais. Memória. Construção de acervos históricos e arqueológicos.

Gt 5 – Corporeidade e Práticas Corporais dos Povos Tradicionais

DESCRIÇÃO
A corporeidade e as questões de ordem social, política, econômica e ideológica tematizadas nas diversas culturas. Complexidade do conceito de prática corporal e sua utilização no campo da Educação Física, das Ciências Humanas e Sociais. Relações estabelecidas entre o ambiente escolar e os elementos da natureza. Práticas corporais e a dimensão da sociabilidade.

Gt 6 - Identidade Nacional e Identidade Regional Étnico-Racial nas Fronteiras da Panamazônica

DESCRIÇÃO
Identidade Nacional. Identidade étnico-racial nas Fronteiras da Panamazônia. Políticas públicas e a logística para o atendimento das comunidades urbanas e rurais na fronteira. Trabalho e sociabilidade nas Fronteiras. Trajetórias de Vida. Narrativas integradas a processos explicativos. Estudo das Sociedades Amazônicas. Saberes tradicionais no contexto rural e urbano nas fronteiras da Panamazônia. Condições de acesso à educação, saúde e serviços no contexto rural e urbano das fronteiras. Moradia e Segurança nas fronteiras da Panamazônia. Grupos sociais e étnicos do meio rural inseridos em diferentes categorias sociais. Rede urbana e as dimensões da natureza e da sociedade nas fronteiras.

Gt 7 - Interdisciplinaridade, Institucionalidade e Desafios das Ciências Sociais na Panamazônia

DESCRIÇÃO
Relações simbólicas entre a natureza, a cultura, sociedade e cotidiano. A produção de conhecimento, a organização e práticas institucionais, constituição de domínios espaciais, virtuais, fixos ou móveis e princípios de objetivação e subjetivação social e   cultural. Interdisciplinaridade e a produção do conhecimento nas Ciências Sociais. Abordagens interdisciplinares e Pensamento Complexo. Gênero, Ciência e Desenvolvimento Social da Panamazônia. Pensamento Social na Amazônia. Epistemologias e Metodologias das Ciências Humanas e Sociais.

Gt 8 – Imaginário, Política Cientifica e Relações de Poder.

DESCRIÇÃO
Processos históricos e socioculturais, envolvendo sistemas simbólicos como linguagens, signos estruturas lógicas, manifestação religiosas, artísticas e festivas, bem como as diferenças concernentes aos modos de pensar e interpretar o mundo. Processos socioculturais envolvendo redes pelas quais se ligam atores e instituições sociais na Panamazônia. Modos de existência de indivíduos  e grupos humanos, considerando-se as inter-relações e as relações estabelecidas com o estado e outras entidades. A produção de conhecimento, a organização e práticas institucionais, constituição de domínios espaciais, virtuais, fixos ou móveis e princípios de objetivação e subjetivação social e cultural. Formas de poder utilizadas ao longo dos processos que determinaram a constituição dos diversos modos de protagonismo político e de resistência social, cultural e ambiental das sujeitas coletivas na Amazônia; políticas públicas e trajetórias institucionais. Lutas contra as formas de exclusão e pelo reconhecimento de direitos e garantias individuais e coletivas.



Convocatória para o II SIScultura



TEMA: Diálogos Interdisciplinares na Panamazonia - Imaginário, Politica Cientifica e Relações de Poder

Data: 09, 10 e 11 de Novembro de 2016
Universidade Federal do Amazonas
ICHL, Campus Manaus - AM

A Amazônia é uma realidade complexa em sua historicidade, espacialidade e diversidade cultural, a Panamazônia compreende todos os países, povos e culturas que se identificam e organizam suas existências em sociedade, em Estados Nacionais, em vivencias comunitárias. Posição singular nas relações econômicas e políticas, a Panamazônia congrega utopias libertarias e agendas institucionais peculiares em relação ao mundo e ao próprio continente sul-americano.
Agrega intenções e tratados multilaterais de pouca efetividade no que concerne às políticas cientificas e educacionais. Incorpora várias expectativas políticas partidárias, perfis diversificados na relação Estado e Sociedade, e cenários de grande expectativa política.
O II SIScultura está desafiado pela crise estrutural, pela conjuntura política do Brasil, pelas expectativas do conhecimento interdisciplinar na Amazônia, e pelas responsabilidades que intervém no processo de formação de novos pesquisadores. O dialogo que se propôs a realizar, desde o primeiro evento tem a preocupação de circular saberes, intervenções e processos de sociabilidade conjunta. A interdisciplinaridade como foco põe a Amazônia Continental como centro do pensamento cientifico, em conjunto político desafiante, é a expectativa que conduz ao II SIScultura.
No ambiente das linhas de pesquisa do PPGSCA, Linha 1 - Sistemas Simbólicas e Manifestação Socioculturais, Linha 2 - Redes, Processos e Formas de Conhecimentos, Linha 3 - Processos Sociais, Ambientais e Relações de Poder, o II SIScultura pode galvanizar preocupações e problemas mais estruturais que agregam temáticas das sociedades em mudança, das ambiguidades da cultura política totalitária e populista, das políticas públicas intermitentes. Visto como pode fertilizar a imaginação cientifica e o imaginário coletivo da tradição dos povos andinos, ribeirinhos e da floresta, e ainda propiciar oportunidades e articular proposições projetos de pesquisa, circulação de ideias e práticas interdisciplinares que concentram energias intelectuais sobre as culturas, os saberes e as políticas cientificas na Amazônia
O Seminário Internacional em Sociedade e Cultura na Amazônia (SIScultura), evento bienal realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pode ilustrar inúmeros fenômenos que emolduram a Amazônia Continental, neste sentido atende a interesses da massa estudantil que inicia suas pesquisas sobre a diversidade amazônica e sociedade em geral.
Por conta desse ambiente o II SIScultura a ser realizado nos dias 09, 10 e 11 de Novembro de 2016, propõe oportunizar múltiplas reflexões, debates que aprofundem discussões sobre a Pesquisa Cientifica Interdisciplinar na Amazônia, sociedade e cultura na Panamazônia.
A finalidade do evento é consolidar o intercambio e a formação de recursos humanos em nível de mestrado e doutorado, centrada numa abordagem multidisciplinar em que diferentes áreas do conhecimento lançam o desafio de oferecer múltiplos olhares sobre os processos socioculturais na Panamazônia pela realização de 02 Conferencias Magistrais, uma na Abertura e outra no Encerramento do Evento; 03 Mesas Redondas; 07 Grupos de Trabalho, Gt 1 - Trabalho, Desenvolvimento Regional, Cidadania E Inclusão Socioeconômica Na Panamazônia; Gt 2 - Educação, Interculturalidade E Formação De Professores Indígenas Na Amazônia; Gt 3 – Desigualdade Social De Gênero, Saúde Da Mulher, Saberes Tradicionais E Conflitos Socioambientais No Mundo Rural; Gt 4 - Oralidades E Memórias Amazônicas: O Uso De Fontes Orais Na Produção Acadêmica; Gt 5 - Corporeidade E Práticas Corporais De Povos Tradicionais; Gt 6 - Identidade Nacional X Identidade Regional Étnico-Racial Tríplice Fronteira Amazônica; Gt 7 – Interdisciplinaridade, Institucionalidade E Desafios Das Ciências Sociais Na Panamazônia; Apresentação de Painéis, Lançamento de Livros, Sessão de projeção de filmes documentários e Atividades Artísticas..

O evento destina-se aos docentes, discentes e dirigentes dos cursos de Graduação e Pós-Graduação de Instituições Públicas e Privadas nas Áreas das Ciências Humanas, Sociais, Biológicas, Exatas e todos que possuem interesse nos estudos sobre a Panamazônia.

Profª. Drª. Marilene Corrêa da S. Freitas.
Julho, 2016